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Levantamento constata aumento em casos de suicídio entre jovens brasileiros

Levantamento constata aumento em casos de suicídio entre jovens brasileiros

A Insurtech Brasileira Azos compilou e analisou dados que indicam que, entre 2014 e 2019, ocorreu aumento de em 28% dos casos de suicídio no Brasil. Nesse período os casos passaram de 9,7 mil para 12,4 mil.
A empresa que fez o levantamento é especializada em seguros de vida e para chegar a esta conclusão, utilizou dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) baseado em histórico de mortes disponibilizada pelo governo federal no portal dados.gov.br.
Conforme estes dados, segundo a empresa, houve um aumento de casos de 49,6% no período entre jovens de 11 a 20 anos. Concluiu ainda que a maior incidência de mortes por suicídio está na faixa etária que vai de 21 a 30 anos.
“Foi um choque ver a quantidade entre indivíduos tão jovens”, afirma Bernardo Ribeiro, diretor de marketing e sócio fundador da Azos. “Os dados são de fontes oficiais e confiáveis e nos indicam uma tendência de aumento nos casos ano após ano”, completa.

Os números no Brasil estão na contramão da média global, já que esta apresentou redução de 36% na taxa global entre 2000 e 2019, conforme constatou a OMS (Organização Mundial da Saúde).

Um estudo feito pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) já havia constatado a tendência de alta nos casos de suicídio entre jovens em 2019. Na ocasião a pesquisa indicou um aumento de 24% nos casos entre 2006 e 2015, com maior frequência entre jovens do sexo masculino.

A média global e o Brasil
Os números no Brasil estão na contramão da média global, já que esta apresentou redução de 36% na taxa global entre 2000 e 2019, conforme constatou a OMS (Organização Mundial da Saúde). A mesma organização, afirmou que no mesmo período ocorreu alta de 17% nas Américas.
Fábio Gomes de Matos, psiquiatra do Hospital Universitário Walter Cantídio, integrante da Rede Ebserh, e professor de psiquiatria da UFC (Univerdade Federal do Ceará), uma possível explicação para o aumento de casos entre jovens seria a imaturidade do sistema nervoso e emocional desses indivíduos. “Isso os torna extremamente impulsivos e com uma necessidade de buscar recompensas rápidas”, explica o médico.
Outra possível explicação para a alta constatada pode se dever, parcialmente, a uma maior notificação de casos — indicando mais aceitação em se falar sobre o tema. “Mas isso ainda não está claro”, afirma.
Para o psiquiatra Rodrigo Martins Leite, coordenador dos ambulatórios do do IPq (Instituto de Psiquiatria) do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de

Medicina da Universidade de São Paulo), os adolescentes e jovens negros e/ou em situação socialmente vulnerável são os mais expostos ao problema. “A falta de perspectiva de trabalho e autonomia, além da dificuldade de acesso a especialistas para cuidar da saúde mental, tornam esse público muito mais vulnerável”, explica.

A pandemia e os índices de suicídio
Houve preocupação de que durante a pandemia do novo coronavírus o confinamento e o estresse gerados pela situação aumentassem os casos de suicídio. No entanto, isso não aconteceu: conforme dados do Anuário de Segurança Pública publicados em julho, uma variação de apenas 0,4% no número de suicídios entre 2019 e 2020, indicando uma estabilidade nesse índice.
Fabiana Nery, psiquiatra, professora adjunta do Departamento de Neurociências e Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e coordenadora do Centro de Estudos da clínica Holiste Psiquiatria, em Salvador, acredita que esse número mostra que o comportamento suicida não sofreu aumentou com as dificuldades durante o período.
Para a especialista em mais de 90% dos casos, o suicídio está relacionado a um transtorno psiquiátrico — depressão e ansiedade, por exemplo —, no entanto, o preconceito a respeito de temas relacionados à saúde mental impede muitas pessoas de buscar ajuda. “O indivíduo que considera o suicídio não deseja a morte, ele quer fugir de uma dor psíquica muito forte”, acredita. “É um sintoma de uma doença grave e, quando oferecemos opções, quando dizemos que tem alternativas para aliviar esse sofrimento, é possível salvar essa pessoa”, completa.
Outra informação lembrada pela especialista é que, além dos jovens, idosos também são um grupo de risco importante para o suicídio. “O envelhecimento cerebral faz com que eles também apresentem uma impulsividade que os coloca em risco para comportamentos do tipo”, afirma.
A importância da família na vida dos jovens
Os especialistas apontam que, para os jovens, é fundamental que os pais estejam atentos, isto por que a adolescência é um período naturalmente desafiador.
A família deve se atentar um possível distanciamento dos pais, a medida desse distanciamento pode ser um indicativo de problemas psíquicos. “O adolescente vai querer ficar com pessoas da própria idade, mas ele não deve perder totalmente o convívio familiar”, diz a psicóloga Sue Missé, especialista em adolescentes. “É uma linha muito tênue e, por isso mesmo, é importante que os pais apurem o olhar nesse momento”, acredita.
Para isso deve-se tentar se manter próximo dos filhos, buscando a criação de oportunidades para se conectar com eles e visando um ambiente em que eles se sintam seguros para conversar sobre os próprios sentimentos. “Uma educação autoritária afasta o jovem dos pais e aí é que mora o perigo, pois ele vai deixar de contar coisas importante sobre a vida”, afirma a especialista.

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